As relações através do WhatsApp

A mesma mão que tecla é aquela que toca, mas nem sempre se percebe como esse ato chega ao outro. Muitas vezes o afago sai como um soco, ou a brincadeira é sentida como provocação... um esclarecimento pode parecer uma denúncia, um compartilhamento alegre é recebido como uma exibição...

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A expansão das formas de comunicação está ativando na sociedade a necessidade de repensar sua expressão. O WhatsApp, como ferramenta rápida, prática e eficaz tem sido assunto frequente nas sessões de terapia, porque quase todos, inseridos nesse movimento sociocultural já vivenciam situações que permeiam seus contatos diários, geralmente carregados de forte emoção, que sentem nas suas relações, através do uso dessa ferramenta da web.

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Os conflitos são os mais diversos, mas o mais comum é o erro de interpretação entre o que se escreve e o que se entende. Contando que brasileiros em geral não têm uma educação muito formal da língua escrita, e que a própria criatividade e extroversão da cultura leva à liberdade na comunicação, ainda mais ficamos sujeitos às amplas possibilidades de compreensão de um mesmo tema exposto.

É interessante observar que os conflitos que acontecem no WhatsApp desde o ato de sair do grupo à francesa, inimizades formadas em discussões, ou até mesmo o início de processos judiciais por danos morais, fazem uma revolução na vida de um indivíduo da mesma forma que nos contatos pessoais sempre fizeram.  

 

As pessoas entram num estado intenso de ansiedade e mágoa, sentindo-se realmente ignoradas ou rejeitadas quando sua mensagem foi visualizada sem resposta imediata, fazem uma interpretação absoluta do que leram sem contemporizar a “não emoção” que as palavras podem deixar escapar e entram numa fantasia como se o que acontecesse naqueles contatos fosse o exato mundo humano real, como se fosse possível todas as potencialidades humanas estarem presentes através de uma máquina... aliás será que alguém lembra que existe uma máquina entre elas?

Esse maravilhoso mundo paralelo criado pelos gênios humanos é tão fantástico que dá uma ilusão real de que todos estão plenos ali. Parece um jogo de vídeo game em que o jogador esquece da lógica humana e se sente “realmente ali”, vivendo e interagindo... e não é que está? Mas está de uma outra forma...

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Forma limitada pela impossibilidade atual da tecnologia reproduzir o que temos de mais belo; a energia que emanamos pelos poros, pelo olhar profundo, pelo cheiro, pela pele, pelo o “outro” que se forma no encontro de almas, que é um campo próprio energético que envolve as pessoas; simples e complexo assim...

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Curioso é a própria evolução do aplicativo WhatsApp. Começamos a usar mensagens de texto no celular, como uma alternativa às ligações, que antes realmente absorviam um tempo maior nas comunicações feitas basicamente pelo telefone. Mas do uso das mensagens de celular, que eram caras e limitadas surgiu o WhatsApp como mensagens de texto ilimitadas e uma explosão de comunicação entre pessoas... daí, como se todos precisassem de algo mais rápido ou com mais emoção, depois de um tempo surgiram as rápidas mensagens de voz. Mas para a nossa admiração o próprio aplicativo evoluiu para o quê? Para as ligações telefônicas?!

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Parece que os emotions não foram suficientes para expressar tamanha emoção humana! Parece que os textos rápidos não aliviaram suficientemente a necessidade e carência de se comunicar muito, mais e mais... parece que nada se “aplica” na substituição do contato, porque nem se seja através dos desentendimentos; o ser humano sempre caminha em direção “ao encontro”.

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Creio que só precisamos ser mais criativos diante dos aplicativos que surgem com a nossa evolução, porque eles têm uma utilidade incrível, mas sem esquecer que o comando é dado por pessoas, com suas sombras, luzes e um afeto transbordante querendo expressar tudo isso! Para o bem ou para o mal... compreendendo bem ou entrando em mal-entendidos...

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Assim, como somos nós que escolhemos a aplicabilidade da internet em nossas vidas, que façamos bom uso, com consciência sobre o que queremos de fato, sobre qual é a nossa verdadeira necessidade do momento, diante do ato automático de pegar o celular. Ou suportemos as consequências das palavras, das expectativas exageradas, das desconfianças inúmeras, da exposição possível, enfim, de tudo o que pode acontecer pessoalmente ou na web, quando não investigamos os mecanismos inconscientes que sempre influenciam nossas atitudes e relações.

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Vera Estrella