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Ensinando a fraternidade

Você já parou para refletir por que temos ouvido falar tão constantemente em Ongs, campanhas de alimentação, e doações em geral?  Sempre existiram pessoas praticando belíssimos atos de caridade, mas parece que vários grupos estão se unindo cada vez mais para amenizar o sofrimento alheio, a dor do mundo...

 

Essa onda de bondade se explica justamente pela grande crueldade mundial.  A sociedade funciona como um organismo que, quando agredido, produz defesas para sua autorregulação, numa compensação natural. Às vezes as defesas não são suficientes para todos os órgãos, mas pode aliviar um pouco.

 

Assistimos diariamente, nem sempre mais estarrecidos, as notícias de violência, corrupção, descaso político, impunidade, guerras em geral e quando tomamos conhecimento de alguém que salva jovens com melhores oportunidades de vida, isso vem como um bálsamo, ou ao menos uma esperança.

 

E o que cada um de nós está fazendo do seu dia em prol do outro para fortalecer a corrente de cuidados com a humanidade?  Às vezes nem atender o telefonema de um amigo que está angustiado. Parece que não dá tempo. E o tempo torna-se um vilão, uma chaga, mas na verdade somos nós que o fazemos.  Quem planeja o seu dia?

 

Nossas crianças urbanas crescem em meio a toda essa correria da vida e ficam confusas com tantos comentários e notícias assustadoras.  Será que o colégio delas lhes permite tempo  e estimula a  olhar para o lado e ver se um colega precisa de ajuda?  E em casa; conseguem largar o videogame e contribuir com alguém?  Será que nos lembramos de orientá-las para ligar para a vovó ou vovô  e saber se estão bem?  Será que nós paramos  diariamente  para ouvi-los sobre como realmente se sentem e permitimos que elas desenvolvam  o interesse pelos nossos sentimentos? Quantas vezes por dia nossos filhos nos assistem a ajudar alguém fora de casa?  E dentro de casa?

 

É no núcleo familiar que a sementinha de amor e fraternidade deve ser plantada e cuidada diariamente.  Talvez um dia tenhamos que responder sobre o que fizemos dos filhos que nos foram confiados e poderemos até  dizer que demos a melhor escola, conforto, oportunidades, mas o próprio comportamento deles dirá se ensinamos o amor, a fraternidade, a empatia.  Sim, cabe aos pais também esse ofício e se pensarmos bem, talvez seja um dos mais importantes para a humanidade.

 

Parece que temos que educar no sentido oposto do mundo, que passa sempre correndo pela competitividade,  impulso e projeção social. Mas talvez encontremos um caminho paralelo, no mesmo sentido, porém adicionando um toque especial em toda a correria; o toque do amor.  E isso não invalida a competição do mundo, pode torná-la mais humana e honesta.

 

Ser educador é estar comprometido, é entregar-se em atenção permanente ao ser que se desenvolve, com o dever de reorganizar o tempo para cuidar de pequenas e grandes tarefas.

 

Talvez, em uma noite, a louça possa ficar no escorredor, a roupa no varal ou o trabalho no computador possa ficar para depois que meu filho dormir. E nesse tempo que vai sobrar eu possa ir com ele visitar um vizinho doente, levando algum alento, um sorriso... Quem sabe se o somatório de gestos assim, quebrando a rotina, faça uma grande diferença na formação moral e afetiva do pequeno ser, que está sob minha responsabilidade e é muitíssimo atento a cada exemplo que eu lhe dou.  Afinal, quem sabe se um dia também vou precisar da  dedicação dele...

Vera Estrella 

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